quarta-feira, 6 de março de 2013

Depoimento de um Pai
















O pai moderno, muitas vezes perplexo e angustiado,
passa a vida inteira correndo como um louco em busca de um futuro.
Esquecendo-se do agora.
Com prazer e orgulho, a cada ano preenche a sua declaração de bens para o imposto de renda.
Em cada nova linha se orgulhava, pois sabia ser fruto do seu trabalho.
Lotes, casas, apartamentos, sítio, casa de praia, automóvel do ano,
tudo isso ele sabia que tinha lhe custado dias, semanas e meses de luta.
Mas ele sabia que estava garantindo o futuro da família.
Dizia consigo mesmo:
Se eu partir derrepente; não deixarei minha família desamparada de jeito nenhum.
Para poder escrever mais linhas na sua declaração de bens;
ele não se contentava com um emprego só.
Era preciso ter dois, três, vender parte das férias, levar serviço para casa.
E era um tal de viajar, almoçar fora, fazer reuniões, preencher agendas.
Afinal ele é um executivo dinâmico e não pode fraquejar,
esse homem se esquece que a verdadeira declaração de bens, o valor que realmente conta, está em outra parte da declaração do imposto de renda.
Naquelas modéstias linhas quase escondidas em que se lê; relação de dependentes.
É a relação dos filhos que colocou no mundo.
E que deveria dedicar o melhor do seu tempo pra eles.
Os filhos novos demais, não estão interessados em prosperidades, ou sequer no aumento da renda.
Eles só querem um pai para conviver, dialogar e brincar.
Os anos passam, os meninos crescem e os pais nem percebem.
Porque se entregou de tal forma a construção do futuro.
Que não participou das pequenas alegrias do filho.
Não os levou nem nunca os buscou na porta do colégio,
nunca foi a uma festa infantil com eles.
Achando que um executivo, não deve desvias as suas atenções para essas bobagens.
Por isso que existe no mundo, tantos filhos orfãos de pais vivos.
Porque estão o pai para um lado e a mãe para outro.
E sendo assim se formando uma família desintegrada, sem amor, sem diálogos,
sem a convivência que solidifica a fraternidade entre pais e filhos.
Fraternidade essa, que abre caminhos no coração, que elimina os problemas,
e que sempre se resolve as coisas na base do entendimento entre pais e filhos.
A filhos nesse momento crescendo como verdadeiros estranhos,
que só se encontram com os pais de passagem dentro de sua própria casa.
E que as vezes para ter uma conversa com os pais, é quase que preciso marcar uma hora.
Será que você precisa passar por uma dramática experiência pessoal e familiar de vida para cair na real.
Não há tempo melhor aplicado do que aquele que investimos nos primeiros dezoito anos de nossos filhos.
Passei quinze desses anos absolvido em muitas tarefas, envolvidos com várias ocupações e
totalmente entregue a um objetivo único e proprietário; construir um futuro sólido e sem falhas,
para meus três filhos e minha esposa, e isso me custou longos afastamentos de casa.
Viagens, estágios, cursos, plantões no jornal, madrugadas em estúdios de tv.
Agora estou aqui com o resultado de todo esse meu esforço.
Consegui construir um futuro penosamente, e não sei o que fazer agora com ele.
Depois que perdi os meus filhos; Luis Otávio e Priscila.
De que me vale tudo que eu juntei, se meus filhos não estão mais aqui, para aproveitar isso comigo.
Se o resultado, de trinta anos de trabalho fossem consumidos agora por um incêndio,
e desses bens todos que adquirir ao longo dos anos, não restassem nada mais do que cinzas,
não teria a menor importância pra mim; porque a minha escala de valores hoje mudou.
E o dinheiro passou a ter um valor mínimo e relativo em tudo.
Porque nem todo o meu dinheiro foi capaz de comprar a cura do meu filho,
que se viciou em drogas e por consequências dela veio a falecer.
Todo o meu dinheiro também não foi capaz de evitar a fuga de minha filha,
que saiu de casa para prostituir-se, e nunca mais eu dela tive notícias.
Para que serve o dinheiro, para que ser escravo dele.
Eu trocaria explodindo de felicidades, todas as minhas declarações de bens.
Por duas...duas linhas que tive que tirar da minha declaração de imposto de renda.
Tive que tirar da relação de dependentes os nomes de Luis Otávio e Priscila.
E como me doeu retirar essas declarações de 1986 em diante.
Luis Otávio morreu aos quatorze anos e Priscila fugiu um dia antes de completar os seus quinze.
Esse depoimento dramático que acabei de narrar foi prestado por um contribuínte ao preencher a sua declaração de renda do exercício de 1986.

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